sexta-feira, abril 27, 2012

Como funciona a seleção

Em vista da chegada da prova e de muitas dúvidas que têm surgido, resolvemos escrever um post explicando mais detalhadamente como funciona a seleção para a IOAA e a OLAA.

O formato geral é o seguinte: os estudantes fazem a prova de seleção, na mesma data e horário, em diferentes locais do Brasil, supervisionada por membros do CCD e, em alguns casos, aplicadores externos conhecidos e "confiáveis" (para os propósitos da seleção). Então as provas são enviadas pelo correio ou escaneadas, de forma que todo membro do CCD recebe cópia de todas as provas. Cada um tem duas semanas para ler e avaliar, depois do que é feita uma reunião presencial entre os membros, normalmente no Rio de Janeiro, para comparar suas leituras e decidir os nomes.

O processo de análise não é algo straight-forward  como dar notas para uma prova, mas nem por isso é obscuro ou muito subjetivo. Quando elaboramos e quando lemos as provas, procuramos as que demonstram as habilidades descritas no regulamento e provavelmente já familiares a vocês:


  • conhecimento geral de física e de astronomia, de acordo com os conteúdos esperados (as referências para o que são os "conteúdos esperados" são, naturalmente, as nossas apostilas);
  • visão espacial e familiaridade com geometria esférica;
  • habilidade prática com manipulação de dados experimentais, tabelas e gráficos;
  • capacidade de articulação lógica e formal;
  • compreensão e raciocínio conceitual sobre temas diversos;
  • bom-senso/ capacidade de estimativas realistas;
  • criatividade diante de situações inesperadas.


Por isso não damos notas às provas. Existem varias maneiras de errar ou acertar uma questão sobre o movimento de um satélite no céu; algumas mostram uma visão espacial inadequada, transposições estranhas, um domínio bom ou ruim dos conceitos envolvidos, etc. Em geral, isso é feito discursivamente, embora às vezes utilizemos pontuações parciais para auxiliar a análise.

Lendo as provas

Mas existe um problema: ler e interpretar qualquer texto (o que inclui provas) é sempre um processo subjetivo cujos enfoques variam bastante de leitor para leitor. Assim, os nomes dos selecionados poderiam variar muito dependendo de quem lê. Para evitar esse problema, atacamos em duas frentes. A primeira: a seleção é feita coletivamente e estabelecida por consenso. Isso significa que, se alguem tem um argumento a favor ou contra alguma prova, tem que convencer todos os outros para que aquilo conte na seleção. Nas raras vezes em que a discussão se prolonga muito e nenhum consenso é atingido, vota-se (mas isso realmente nao é usado; em nosso caso, consenso é sempre atingido).  Em particular, isso torna difícil prejudicar ou privilegiar algum aluno específico: se alguém tiver essa intenção, precisa convencer a todos os outros de fazer o mesmo.E os membros do CCD sao de partes diferentes do país, tiveram formações diferentes e estão ligados a pessoas diferentes.

Além disso, ao longo dos anos formulamos uma série de orientações éticas e procedimentais para nós mesmos: o Livro do Mestre dos Mestres para Seleção. Está aí para quem quiser ler, mas para os preguiçosos, destaco alguns pontos importantes:

  1. A prova é pública e isônoma. Isso signifca que só conta para a seleção tudo o que é dito explicitamente, a todos e com antecedência, que contará. Consideramos isso fundamental, já que todo aluno tem direito de se preparar e se esforçar para agir bem naquilo que ele sabe que contará.
  2. A prova, escrita, é a única informação que conta. Se você mandou um simulado com erros para nós, se falou besteira no Facebook, se algum de nós deu aula para você ou o conhece de algum lugar -- nada disso conta na seleção. Todo argumento contra ou a favor de um nome deve ser inteiramente comprovado a partir do que está escrito na prova. Do contrário, não é levado em consideração.
  3. Avaliamos apenas as habilidades declaradas acima e não qualquer outra característica das pessoas. Assim, argumentos do tipo "Fulano é esforçado, Beltrano é preguiçoso, Sicrano é legal, Coltrano é mais disciplinado", mesmo que  tenham algum embasamento na prova, não contam. Em particular, supomos que, uma vez selecionados, todos se dedicarão igualmente ao treinamento e, bem orientados, têm as mesmas chances de sanar as próprias deficiências. 
  4. Alguns critérios de ordenamento simples devem ser sempre respeitados. Assim, nao importa quão elogiável ou criticável algo é: uma resposta em branco é sempre pior que uma resposta parcial, que é sempre pior que uma resposta completa. Se uma prova nao supera outra em nenhum item específico da prova, ela é inferior à outra, etc.
Afinal, nosso objetivo específico é selecionar a equipe com mais chances de um bom resultado na IOAA e na OLAA, e sabemos que isso é apenas uma pequena parte da motivação geral e do grande e multicéfalo processo olímpico, no qual cada pedaço tem uma importância própria e indispensável.

Que tenhamos os melhores representantes que pudermos =)